Imagem: trecho do rio São Francisco.
Quanta audácia!... Mudar o curso de um rio!...
Pobres mortais... Acham mesmo que irão fazê-lo melhor?!
QUERO CORRER EM MEU LEITO
Quanta audácia!... Mudar o curso de um rio!...
Pobres mortais... Acham mesmo que irão fazê-lo melhor?!
QUERO CORRER EM MEU LEITO
Desço lento, desço manso,
Pela serra da Canastra.
Depois aumento o volume,
Sobre as pedras me derramo
E sou chamado de cascata.
Continuo meu percurso
Banhando várias cidades.
Até aí, tudo bem:
Isso é comum entre os rios
Com igual capacidade.
Sei que simbolizo “vida”,
Mas rumores se espalharam...
Querem mudar o meu curso
E se quer, me perguntaram.
Sem escrúpulos: Nem pensaram,
Que eu me recuso a correr
Num leito estranho e seguir
Sem ver as mesmas paisagens;
Andando em terras estranhas
Cercado por outras margens.
Os homens enlouqueceram!
Querem fazer outro rio
Descaracterizando
Minha naturalidade:
Eu morrerei de tristeza!...
E os que muito me amaram,
Nas minhas terras de origem
Irão sentir minha falta.
Jamais eu serei o mesmo!
E as chuvas quando chegarem
Vão invadir outros campos
E certamente arrastarem
Muitos pertences dos homens
Respondendo à grosseria
E insensibilidade.
Quem me fez tem o poder
De nunca mais permitir
Que eu desempenhe as funções
Por Ele determinadas.
E aí os homens verão
Que extrapolaram os limites
Das suas atrocidades.