Mosca inconveniente
Sento-me para ler um livro,
Uma mosca pousa em minha testa.
Talvez ela queira bisbilhotar o que leio,
Mas ela me perturba!
Espanto-a, ela voa e volta.
Pousa em meu nariz!
Balanço a cabeça para ela voar.
Ela insiste, persiste, não desiste.
Espanto-a com a mão, ela voa.
Não para longe, fica ali, me espreitando.
Novamente ela pousa sobre mim.
Desta vez em meu ombro.
Movo-me para espantá-la,
Mas não tiro os olhos do livro, ele é interessante.
Mudo de lugar, sem despregar os olhos do livro,
Ela continua perseguindo-me, pousa várias vezes, espanto-a várias vezes.
Paro de ler e me pergunto: por que ela me persegue?
Sei que elas só se alimentam de carne morta e alimentos podres.
Como não estou morto e nem podre, a dúvida continua.
Volto a minha leitura, e ela ali, a azucrinando-me.
Preparo estratégia para exterminá-la.
As emoções da história que leio estão chegando ao fim.
Coloco pequenino pedaço de carne sobre a última página do livro.
Ele tem capa dura. Ela sente a presença da carne e pousa.
Triunfalmente fecho o livro, termino minha leitura matando-a.