Mosca inconveniente

Sento-me para ler um livro,

Uma mosca pousa em minha testa.

Talvez ela queira bisbilhotar o que leio,

Mas ela me perturba!

Espanto-a, ela voa e volta.

Pousa em meu nariz!

Balanço a cabeça para ela voar.

Ela insiste, persiste, não desiste.

Espanto-a com a mão, ela voa.

Não para longe, fica ali, me espreitando.

Novamente ela pousa sobre mim.

Desta vez em meu ombro.

Movo-me para espantá-la,

Mas não tiro os olhos do livro, ele é interessante.

Mudo de lugar, sem despregar os olhos do livro,

Ela continua perseguindo-me, pousa várias vezes, espanto-a várias vezes.

Paro de ler e me pergunto: por que ela me persegue?

Sei que elas só se alimentam de carne morta e alimentos podres.

Como não estou morto e nem podre, a dúvida continua.

Volto a minha leitura, e ela ali, a azucrinando-me.

Preparo estratégia para exterminá-la.

As emoções da história que leio estão chegando ao fim.

Coloco pequenino pedaço de carne sobre a última página do livro.

Ele tem capa dura. Ela sente a presença da carne e pousa.

Triunfalmente fecho o livro, termino minha leitura matando-a.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 10/11/2012
Reeditado em 10/11/2012
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