O Igarapovu
Tua copa é uma boina ... enorme... rendada!...
Guarda-sol da floresta... tão alta... tão bela.
Para o sol contemplar tua veste dourada,
Cobres ela de flores de cor amarela.
Teu nome se explica no étimo tupi,
Igara é canoa, e povu, construir.
Nasceste ao acaso, ninguém te plantou!
Cresceste sozinho, ninguém te regou!
És símbolo vivo da nossa cidade,
Floripa, que encanta com tanta beleza,
Floripa, que canta Éden de verdade,
Que a todos exibe impar natureza.
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Há tantos nos montes, são tão coloridos
Seu verde limão e o amarelo tão vivos.
Olhar as encostas dá gosto de ver
Bem na primavera, no seu florescer.
Seu tronco comprido, bem reto, bem grosso
Chamou a atenção de um velho e de um moço,
Do pai e do filho, que andavam à toa,
E lhes veio nas mentes fazer-lhe canoa.
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A caminho das águas, assistiram passar
Os homens da aldeia levando pro mar
A canoa bordada, emproada, pintada
De limão e amarelo e de nome LUAR.
Ninguém mais falava da árvore finita
Mas só da canoa: tão baita... bonita!...
Tal féretro romano: um triunfo, sem flores,
Conduziam o cadáver - alegres, sem dores.
Assistia o desfile um pássaro saí-açu,
Que sempre cantava no igarapovu.
Soluçando bradava: “que gente ignara!
Será que se lembra como era a igara!?
Tu foste traída, ó árvore imponente,
Por gente que infringe tão impunemente.
Teu tronco bem grosso e o teu diadema,
Se úteis a ela, te abate sem pena.
Igara, que ajudas o homem a viver!
Senhora da água é o que quer dizer!
Igara, és resto... sem vida... sem luz!
São lindos, igara, os igarapovus.
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O lenho bem leve desceu suavemente
O remanso das águas dum igarapé,
Foi estar com a fúria do mar inclemente,
De onda encrespada e revés de maré.
// Ignacio Queiroz - Floripa, 25/11/04
www.ignacioqueiroz.co.cc
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Canoa bordada – Aquela a qual se acrescentou uma tábua sobre os bordos, de modo que os lados ficaram mais altos e, conseqüentemente, tornou-se mais funda. Quase sempre, inclina-se esta tábua para fora, de modo a torná-la, também, mais larga de boca.