Um dia que vi morrer na praia
Nuvens vão se aglomerando
Em trajes negros de algodão
Num céu de melancolia,
Parece que estão de luto
Chorando no fim da tarde
A morte de mais um dia.
E a serra a margem da praia
Antecipa o triste fim,
Traz a noite bem mais cedo,
Talvez por isso o bramido
Do mar louco, enfurecido,
Açoitando o rochedo.
Ouço o som intermitente
De um vento indefinido.
Como alguém a insistir,
Que de repente vai e volta,
Batendo em minha porta,
Pedindo pra eu abrir.
E fico olhando da vidraça,
Na chuva que cai lá fora,
Os lampejos de agonia
De uma luta já perdida,
Dos raios na tentativa
De trazer de volta o dia.
Mas o sol já se escondeu,
Esse dia já morreu,
Já é fato consumado.
Nuvem em choro se desfez,
O breu venceu outra vez,
Se acalma o mar conformado.