CICLO DO VENTO
CICLO DO VENTO
I - Dança
A folha que rodopia
ao vento,
não tem noção, sentimento,
deste seu rodopiar;
não sabe se é de alegria
sua dança, seu movimento,
ou só se deixa levar;
gira, sobe, alça voo,
paira um pouquinho no ar,
depois tomba, sem tristeza,
e recomeça a dançar;
e é bonita esta dança,
o movimento, a leveza
da folha que não se cansa
de tanto rodopiar.
II - Tempestade
O vento que passa assobiando
E com rudeza bate na janela,
Traz folhas soltas que vão rodopiando,
E, em seu bojo, o anúncio da procela.
Transborda em frias águas o céu cinzento
De nuvens, que rolam loucamente;
Relâmpagos cruzam depressa o firmamento,
Trovões ribombam, atordoando a mente.
Sob a chuva que cai no solo já encharcado,
Árvores vergam, pássaros tremem e, com um gemido,
O homem olha o céu, apavorado.
Mas de súbito renasce a esperança:
Um raio de sol, na água refletido,
Brilha ao longe, aonde a vista mal alcança.
III - Vento
Faz medo, às vezes, o vento.
Ao sacudir as vidraças
Quando passa, violento,
Traz presságios de desgraças.
À mente vêm-nos imagens
De uma terra castigada,
De convulsas paisagens
Por sua ira devastadas.
Árvores desnudadas,
Folhas rolando ao léu,
Coisas sendo arrastadas.
Na voragem da ventania
O que é da terra sobe ao céu
E sem querer rodopia...
IV - Ventania
O ar em seu movimento,
se é calmo é brisa macia,
mas quando corre veloz,
impaciente, barulhento,
chama-se ventania.