M´BOITATÁ
Quando o ultimo sol se foi
Seguindo o vento minuano
Desabou tremenda chuva
Cobrindo os ermos pampeanos
E a água inundando tudo
Foi ao lombo das coxilhas
Fazendo os bichos por medo
Viverem as mil maravilhas
E desceu sobre a humanidade
Uma noite bem comprida
Apagando a luz do dia
Na antiguidade perdida
E a quietude deste mundo
Envolto em grande escuridão
Só se quebrava ao cantar
De algum “teu-téu” guardião
Que ao grito de quero-quero
Ao mundo o alerta dava
De que a faminta “boiguaçu”
Rabeando se aproximava
Comendo somente os olhos
Dos bichos que pereceram
A “m´boitata” então brilhava
Entre os que sobreviveram
Pois um rastilho de luz
Do ultimo sol que brilhou
Havia em cada um dos olhos
Que a cobra grande papou
Mas os tantos olhos comidos
Só luz ao seu corpo deu
E foi de pura fraqueza
Que a “m´boitata” um dia morreu
Tal como coisa mandada
O sol despontou de novo
Descambou, voltou a noite
E após mais luz para o povo
Porem a “m´boitata” hoje
Ainda cumpre seu fadário
Dorme no inverno e no verão
Ela refaz o seu itinerário
Um fogo a correr nos campos
Mas sem queimar a macega
E a pessoa que encarar a cobra
Se não se negar, fica cega