M´BOITATÁ

Quando o ultimo sol se foi

Seguindo o vento minuano

Desabou tremenda chuva

Cobrindo os ermos pampeanos

E a água inundando tudo

Foi ao lombo das coxilhas

Fazendo os bichos por medo

Viverem as mil maravilhas

E desceu sobre a humanidade

Uma noite bem comprida

Apagando a luz do dia

Na antiguidade perdida

E a quietude deste mundo

Envolto em grande escuridão

Só se quebrava ao cantar

De algum “teu-téu” guardião

Que ao grito de quero-quero

Ao mundo o alerta dava

De que a faminta “boiguaçu”

Rabeando se aproximava

Comendo somente os olhos

Dos bichos que pereceram

A “m´boitata” então brilhava

Entre os que sobreviveram

Pois um rastilho de luz

Do ultimo sol que brilhou

Havia em cada um dos olhos

Que a cobra grande papou

Mas os tantos olhos comidos

Só luz ao seu corpo deu

E foi de pura fraqueza

Que a “m´boitata” um dia morreu

Tal como coisa mandada

O sol despontou de novo

Descambou, voltou a noite

E após mais luz para o povo

Porem a “m´boitata” hoje

Ainda cumpre seu fadário

Dorme no inverno e no verão

Ela refaz o seu itinerário

Um fogo a correr nos campos

Mas sem queimar a macega

E a pessoa que encarar a cobra

Se não se negar, fica cega

Silvestre Araujo
Enviado por Silvestre Araujo em 18/05/2012
Código do texto: T3675014
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