Falso Discurso

Quanta tristeza em meu coração!

quando vejo a beleza do mundo aos pouco morrendo, sem compaixão.

Como risco de tinta lentamente sumindo, da palma da mão.

Quanta tristeza em meu coração!

Quando procuro o encanto noturno do céu e só vejo fumaça,

cobrindo a magia das estrelas e a beleza da lua de pata,

que ainda ontem brilhava sobre as montanhas distantes

e verde das matas.

Quanta tristeza em meu coração!

quando ouço calado no alto do vídeo

o falso discurso do mesmo patrão,

de terno e gravata e planilha na mão.

Na ponta do lápis o cálculo exato,

o lucro certeiro da produção.

Compassivos ouvidos ouvintes que ouvem calados,

o estrondo sonoro da máquina. A máquina pesada.

O Grito da mata. A mata fechada posta no chão.

A fábrica gigante, como ciclope, em construção.

Em sua volta o silêncio esperado.

Nada de flor. Nada de canto. Nada de pássaro.

Só o distante lamento choroso da lua calada,

contemplando a cinza da mata queimada

e bicho fugido... da região.

Do cerne do tronco ainda em brasa, a negra fumaça.

A Fera gigante apitando distante, o esgoto da fábrica.

No leito do rio, na lâmina d´água,

peixes boiando na podridão.

Quanta tristeza em meu coração!

Jaíres Rocha
Enviado por Jaíres Rocha em 29/04/2012
Reeditado em 19/01/2016
Código do texto: T3640412
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