RITUAL DE ALVORECER

NÉVOA DA MANHÃ QUE SE DESCORTINA

DEIXANDO PELA RELVA RESTOS DE MADRUGADA

QUANDO O SOL SE ESPREGUIÇA NO DORSO DE UMA COLINA

E SE ESPARRAMA SOBRE A CAMPINA ONDULADA.

COLCHA DE RETALHOS AINDA DESFEITA DO SONO

COXILHAS SOBREPOSTAS CUIDADOSAMENTE COSTURADAS

PELAS TRILHAS DO GADO, ANO APÓS ANO

NUM EMARANHADO DE TRAÇOS CERZINDO A PASTAGEM

SOVADA.

RECEBE OS REMENDOS DA PAISAGEM DE OUTONO

ORA RETÂNGULOS VERMELHOS DE TERRA ARADA

ORA O VERDE DO PASTO BATIDO PELO GADO

ORA O CINZA DO CAPINZAL CASTIGADO PELA GEADA.

NUM RITUAL DE ALVORECER DESPERTA O MEU RINCÃO

ESPELHA SEUS CAMPOS NO VERDE DOS MEUS OLHOS

REFLETE EM MEU SEMBLANTE TURVANDO-ME A VISÃO

SERÃO LÁGRIMAS QUE ROLAM DE MINHAS FACES OU SERÁ

O ORVALHO?

ÀS VEZES SOU ESPELHO, OUTRAS A PRÓPRIA IMAGEM

DISSIPO-ME SOBRE A RELVA COMO NÉVOA AO SOL

TÃO INSERIDA AO MEIO ME EMOLDURO NA PAISAGEM

SOU PEÇA DE UM MOSAICO À LUZ TÊNUE DO ARREBOL.

EMBRIAGA-ME OS SENTIDOS A ORGIA DE ODORES CAMPESTRES

REGALOS QUE A BRISA LISONJEIRA TRAZ QUANDO RETORNA

DA MATA

SÂNDALOS, ÂMBARES, ALMÍSCARES, ALECRINS SILVESTRES

FRAGRÂNCIAS QUE SE MISTURAM COMO NUM DIA DE FESTA.

E ASSIM O OUTONO SE DESDOBRA SOBRE A CAMPINA

LEVANDO CONSIGO A MANHÃ DE MINHA TENRA INFÂNCIA

OS CHEIROS, AS CORES, AS FORMAS, A RELVA, A NEBLINA

QUE AINDA SÃO PARTE DE MIM APESAR DO TEMPO E DA DISTÂNCIA.

CLAUDIA DALPIAZ
Enviado por CLAUDIA DALPIAZ em 31/01/2012
Reeditado em 18/03/2012
Código do texto: T3472686
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