RITUAL DE ALVORECER
NÉVOA DA MANHÃ QUE SE DESCORTINA
DEIXANDO PELA RELVA RESTOS DE MADRUGADA
QUANDO O SOL SE ESPREGUIÇA NO DORSO DE UMA COLINA
E SE ESPARRAMA SOBRE A CAMPINA ONDULADA.
COLCHA DE RETALHOS AINDA DESFEITA DO SONO
COXILHAS SOBREPOSTAS CUIDADOSAMENTE COSTURADAS
PELAS TRILHAS DO GADO, ANO APÓS ANO
NUM EMARANHADO DE TRAÇOS CERZINDO A PASTAGEM
SOVADA.
RECEBE OS REMENDOS DA PAISAGEM DE OUTONO
ORA RETÂNGULOS VERMELHOS DE TERRA ARADA
ORA O VERDE DO PASTO BATIDO PELO GADO
ORA O CINZA DO CAPINZAL CASTIGADO PELA GEADA.
NUM RITUAL DE ALVORECER DESPERTA O MEU RINCÃO
ESPELHA SEUS CAMPOS NO VERDE DOS MEUS OLHOS
REFLETE EM MEU SEMBLANTE TURVANDO-ME A VISÃO
SERÃO LÁGRIMAS QUE ROLAM DE MINHAS FACES OU SERÁ
O ORVALHO?
ÀS VEZES SOU ESPELHO, OUTRAS A PRÓPRIA IMAGEM
DISSIPO-ME SOBRE A RELVA COMO NÉVOA AO SOL
TÃO INSERIDA AO MEIO ME EMOLDURO NA PAISAGEM
SOU PEÇA DE UM MOSAICO À LUZ TÊNUE DO ARREBOL.
EMBRIAGA-ME OS SENTIDOS A ORGIA DE ODORES CAMPESTRES
REGALOS QUE A BRISA LISONJEIRA TRAZ QUANDO RETORNA
DA MATA
SÂNDALOS, ÂMBARES, ALMÍSCARES, ALECRINS SILVESTRES
FRAGRÂNCIAS QUE SE MISTURAM COMO NUM DIA DE FESTA.
E ASSIM O OUTONO SE DESDOBRA SOBRE A CAMPINA
LEVANDO CONSIGO A MANHÃ DE MINHA TENRA INFÂNCIA
OS CHEIROS, AS CORES, AS FORMAS, A RELVA, A NEBLINA
QUE AINDA SÃO PARTE DE MIM APESAR DO TEMPO E DA DISTÂNCIA.