CONFISSÕES DE UMA FONTE
Nasci fonte pequenina...
Brotei das entranhas da terra, em meio à floresta!
Trazia comigo um lindo sonho:
Tornar-me um riacho... Unir-me a outros riachos
Formar um caudaloso rio
E, por fim, seguir o curso natural da vida,
Prosseguindo minha lida
Até desaguar no mar!
O meu sonho era pleno de amor!
Viveria na mata virgem, em eterna festa
E do pouco que eu tivesse faria doação:
Ao cansado eu ofereceria a minha água
Pura e cristalina... Eu saciaria a sua sede!
E colocando os peixinhos em uma rede
Eu mataria a fome de outro irmão!
Eu seria o habitat de muitas criaturas...
Viveria rodeada de pássaros, de diversos animais,
Todos buscando em mim um alimento,
Um recanto para descansar.
Um lugar para viver em paz!
Ah, e as lindas borboletas!...
Das mais variadas cores,
Bailando em revoada!
Compondo com a natureza
Um cenário encantador,
Pousando por sobre as flores!
Mas sinto que não terminarei a minha trajetória!
Luto, sozinha... Uma batalha inglória!
O homem, com o seu desamor e sua indiferença,
Tenta me exterminar!
Sinto cansaço...
Já não sou fonte; também não sou riacho!
Sou apenas um tênue filete de água
Que insiste em abrir caminho,
Seguir seu rumo até o derradeiro instante.
Sou uma lágrima que restou de minha fonte cristalina!
A natureza me fez bela e forte...
O homem mudou a minha sina!
Tenho saudades de minha infância,
De quando, mesmo que apenas em sonhos,
Atravessei fronteiras e buscando o meu destino,
Segui incansável... Fui intrépida... Guerreira!
Agora passo por uma terra estranha, árida, de solo rachado,
Árvores mortas, animais tristes, humanos desfigurados...
Minhas fantasias com certeza ficaram para trás.
Verei a floresta verde? Acho que jamais...
Um homem, vítima de sua ganância,
Ávido por riqueza, rico em ignorância,
Um destruidor... Aterrou o meu leito!
Nem pensou direito...
E... Acabou de me matar!
Maria do Socorro Domingos dos Santos Silva
João Pessoa, 14/01/2012.