Noite
Óh! Noite: clamor do dia!
Tu, de veludo acobertada,
de desejo arrebatada,
de suplício imunizada,
de prazeres tão dotada.
Ó, noite, que a mim devoras,
e o teu seio que aqui me tocas
e esse ansei com que me contornas...
Ó, noite, quando vai escurecendo e a tua boca se aproxima,
vem-me um tal toque que me axcita,
e me consome em carne viva!
Ó, noite, dos cristais amantes,
e essas perolas que em ti pendidas,
são de teu luxo e luxúria vítimas.
Ó, noite que traz em ti um cristal de rugas,
que vai e volta "fria" e "muda".
deitada em teu leito desliza pura.
Ó, noite, de tuas entranhas, negra e crua,
brotam cantos, sinfonias que em mim se enrosca,
e me toma todo teu e em ti comportas.
Ó, noite, que me velas no fechar da luz dourada,
que me embalsa em doces contos no fluir da madrugada!
Ó, noite, vai-te embora
pois já chega a alvorada!