Sombra do passado


 
Fui um dia semente robusta,
nutrida, jogada num sulco
a germinar...
Nasci, cresci, reproduzi-me,
tive tronco torneado,
galhos nutridos, flores que embelezaram
e perfumaram...
Frutos que alimentaram, mataram a fome
de viajantes famintos
e fatigados
que por mim passaram.
Minha copa frondosa foi palco para
centenas de passarinhos
que se refestelaram e se refrescaram 
no calor implacável
do verão cada vez mais quente.
Essas avezinhas encontraram em minhas folhagens
o porto seguro, o lugar perfeito
para se acasalarem
e abrigar seus filhotes bem longe
dos predadores.
Eu ficava toda boba e orgulhosa
quando dezenas de crianças brincavam 
de pega-pega em volta
de meu tronco, com suas alegrias e
algazarras, eu me derretia toda!
Pela ação da clorofila
realizei a fotossíntese,
para que o meio ambiente oferecesse
qualidade de vida através do ar puro e fresco.
Hoje, a ganância dos homens
desprovidos de sensibilidade e amor à vida
e munidos de uma motosserra,
pôs fim a minha majestosa carreira.
Me fizeram sangrar
da cabeça aos pés
e me deixaram ao relento, banhada em lágrimas
e me contorcendo de dores
terríveis...
Sou apenas um resto do muito que fui,
sem nenhuma importância
ou utilidade.
Sou sombra do passado
abandonada à ação da natureza
ou dos homens,
que se encarregarão
de remover os restos de minhas pobres,
apodrecidas e inúteis
raízes.

Isis Dumont
28/10/2011, às 10:29h

Aparecida Ramos
Enviado por Aparecida Ramos em 28/10/2011
Reeditado em 28/10/2011
Código do texto: T3302900
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