A garça
O sol começa nascer,
e o vício do aroma se esvai
a beira do rio;
pescoço encurvado,
pouso eterno,
a garça,
sobre a galha seca do
paud'arc,
teus olhos entre abertos;
abelhas,
pernilongos,
e outras
mil
asas
agitas,
como o tremer d'água ondulante
até o fim da praia de lama...
Da tua íris repleta,
-os deslizes,
os ensaios,
dos primeiros raios,
no colorir
estético
das virações!...
Ouvem-se cânticos,
d'outros pássaros,
do bulício que verga as harmonias,
faces vivas,
máscaras mortas
Imagem sombria,
levezas d'alma
de penas,
e por pena
vive
os gestos do gênio;
se não,
a idêntica monotonia,
do hábito singular;
se não,
os arroubos panorâmicos,
paraíso
sem riso
sem cor
sem mágoa!...
Qual alvura
padece mais,
ao látego do paud'arc?...
Pombal, 20 de janeiro de 2009