O GERMINAR DAS ESTAÇÕES
O inverno avança no hemisfério sul
A geada cobre o rosto das planícies de uma mortalha branca
Os campos se pintam de um tom pálido de livro antigo.
O frio envelhece a paisagem!
O vento regelante geme na madrugada, murchando as flores
Esvoaçam os véus do silencio, seus ecos ressoam pelos vales
As sombras do céu se deitam sobre os montes e florestas
Cobrindo o espírito da terra de expiação e vultos fantasmagóricos
As madeiras fecham seus poros,
As ervas acanhadas se ressecam
As brisas rasteiras sopram as folhas caídas
O solo esfriado armazena as sementes do amanha
A mata respira em silencio
O pequeno rio se esforça para manter-se em curso e o verde da vegetação ciliar
As nuvens escuras se esgarçam no alto do céu, preconizando a gravidez das chuvas vindouras
Altera-se o humor dos pássaros!
Os bichos dão passeios mais curtos no seio da mata, à procura do alimento escasso
As abelhas fecham a entrada da colmeia e iniciam o ciclo de adoração à rainha
As estrelas fogem para o infinito em busca de calor
Os vestígios da noite cobrem o cenário de langor e as árvores secas de um estranho martírio
O lago desértico agoniza solitário. Os peixes se escondem nas locas
Os sapos não cantam, os grilos se calam!A coruja emite seus últimos vagidos.
A lua cheia vestida em organza amarela medita desditosa no alto do céu
O homem dorme encolhido. Seus sonhos estão suspensos!
A vida se retrai, as almas se aquietam,
No entanto, no ventre inchado e frio, a mãe natureza não descansa, se contrai em espasmos silenciosos,
Para a concepção da futura primavera
Numa tentativa inútil de preencher nossas almas de flores!