TUDO ENCURTA

Esse inverno tudo encolhe:

O pensamento não vem,

As palavras se detêm,

E toda a nudez se tolhe.

Encurta o riso, o humor,

E tão pouco amor se faz,

Quase nada nos apraz,

Todo osso sente dor.

Corpos deitam separados,

Pés gelados, bundas frias,

Mãos passeiam arredias,

Não reagem, os agrados.

Os banhos são torturantes,

Que se danem os asseios!

Pois que lacram todos os seios

Em seus bojos redomantes.

Deitam as matas ciliares

Sobre a fonte da entranha,

Ao mergulho, não se assanha:

Barram as redes circulares.

Cá no sul da nossa esfera

Cede o verde ao branco giz,

Tanto frio torna petiz

O que já pequeno era.

Casacões, mantas de lãs,

Ceroula, boné, pijama...

Como é bom ficar na cama

Nessas gélidas manhãs.

Esse frio que aqui impera

Desgrenha, enruga, arrepia,

Hibernar, melhor seria,

Só voltar na primavera.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 06/07/2011
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