NATAL DO MENINO DE RUA

Tem negro o curto cabelo,

Veste andrajo em desmazelo,

Nasceu em humilhante pobreza

Sem casa vive na natureza.

Descalços tem os pés ligeiros,

Fala vocábulos grosseiros.

Lascivo, ele olha as meninas,

Como se fossem prostitutas finas.

Mas sonha uma vida diferente,

Quer correr de tão contente,

Conhecer lugares singulares

Sem a polícia nos calcanhares.

Hoje a alma está em pedaços

Por não ter dois ternos braços

De uma mãezinha neste Natal

Pois conhece seu destino fatal.

Sai com o coração apertado

Recolhendo as sobras do pecado

Da gula de muitos comilões

Deixadas nas calçadas e nos lixões.

É Natal. Chora Jesus na sua noite

Por ver tanta dor, tanto açoite,

Pois todo aniversário deveria

Ser comemorado com alegria...