Fazendo as pazes com Papai Noel
Tere Penhabe
Papai Noel, eu estou com remorso.
Fui cruel demais, e sei: - Não posso!
Por isso vim aqui para negociar,
como fazem os homens do poder
que sem direito algum, sem merecer
estão sempre tentando barganhar.
Quando lhe devotei a minha praga,
estava muito triste e muito fraca;
dezembro lembra muito o meu passado...
tanta alegria tinha em minha casa
tanta criança fazendo algazarra,
hoje, só fado para ser lembrado.
Mas o meu coração não é maldoso,
e corta-se ao ver saco horroroso,
pesando tanto em suas pobres costas,
sem nem ouvir sequer um "obrigado"...
que o povo agora é mal-educado
e vivem como na bolsa de apostas.
Portanto, se puder me perdoar
eu vou ficar feliz e me alegrar
e aproveitar esta oportunidade
para trocar o amor do meu anseio
pelos desejos que na alma enleio
que talvez possa tornar realidade.
Vou relacionar e com carinho
meus pedidos, e seja bonzinho...
O primeiro, eu não posso mudar:
- Aquele moço de olhar antigo
que por acaso é meu grande amigo
precisa de um presente: - Se curar!
Não julgue meus pedidos, disparates.
Será um brilhante de muitos quilates,
(e a minha gratidão será infinda)
se eu puder ver aqui na minha porta,
aquela antiga esperança morta,
renascida em sua alma tão linda.
E outros amigos que estão precisando,
que a dor e o pranto estão adotando.
Choro com eles sem compreender...
Que na verdade eu bem que compreendo,
sei o porquê de estar aqui vivendo,
mas me parece muito esse sofrer.
E as riquezas que andam pedindo,
finja que está surdo, vai seguindo...
Troque por aleluia de esperanças,
que o meu povo está precisando
já tão cansado e desanimando,
espalhe sem miséria em suas andanças.
Eu tenho visto aí pela calçada...
Finjo que nada é da minha alçada,
porque posso tão pouco, meu amigo!
Mas sem demagogia, eu gostaria
de não ver essa gente, todo dia
vivendo esse horror que é tão antigo!
Lutar tão bravamente e sem descanso,
por um naco de pão, recheio ranço,
como se fosse o mais rico banquete...
Enquanto isso, os homens que os usaram
que em eleições, deles se aproveitaram,
os deixam ao léu, num rabo-de-foguete.
Se no seu saco, tiver a justiça...
por Deus, se desvencilhe da preguiça,
semeie em abundância entre nós.
Que essa chaga já virou cratera,
no coração daqueles que a espera,
já tão cansados das visões de Amós.
Pelas crianças, eu nem vou pedir...
Sei que o seu coração há de sentir,
o quanto é triste ver os pequeninos,
de sonhos e esperanças, desprovidos
buscando arduamente, os sentidos
pra tanta falta que têm em seus ninhos.
Então é isso, caro Papai Noel...
(Não sei como se chama, se é cordel...)
Mas eu fiz estes versos com carinho
da melhor parte do meu coração
foi que saiu toda essa inspiração
pois sei que nessa lida está sozinho.
Mas não esqueça que a minha renúncia
não tem da desistência, a pronúncia.
O meu sonho é um réu absolvido!
Portanto eu cobrarei em outra vida
essa saga do amor, por mim, querida,
que sem isso, viver não tem sentido!
Santos, 12.12.2007
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