PERU DE NATAL
Com olhos de passas,
rodeado de farofa
e abacaxis,
de peito estufado,
temperado e lustroso,
entre maçãs e cerejas,
me contempla, nervoso,
o peru da bandeja.
E se assusta
com as mãos ligeiras
que vão tirando
fatias finas e tenras
do seu dorso.
Comem-no os olhos
e também os dentes famintos
de uma faca-de-serra.
Um copo de vinho tinto seco
molha a garganta
dos convidados.
Nesse ano,
nem teve o amigo secreto.
Apenas um peru discreto,
solidariamente devorado
em mais uma ceia de Natal.
(José de Castro, 12/12/07)