NATAL... QUE NATAL?
Saio da minha porta e um vazio a aparecer:
À vista de tamanha solidão,
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro a minha rua e a míngua está a crescer:
À vista de tamanha estupefacção
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro a minha aldeia e a inércia está-se a ver:
À vista desta desertificação
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro p´ la cidade e há um caos de se temer:
À vista da tristeza e frustração
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro as praças e nenhum abrigo pra viver:
À vista de tão grande desilusão
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro as feiras e nenhum dom d´ enternecer:
À vista de tão espantosa presunção
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro os bancos e nenhum crédito pra conter:
À vista da lamentável exploração
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro os civis fóruns e é de estarrecer:
À vista do estatuto do cidadão
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro a minha escola e é de estremecer:
À vista de tão pouca educação
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro estádios e igrejas e é de condoer:
À vista de tão pobre alienação
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro lares e hospitais e é d´ entontecer:
À vista desta vil consternação
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro o meu país que está a envelhecer:
À vista de tão cruel constatação
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro os pátios e os presépios, s´ os houver:
À vista de tão reles representação
O que é que este Natal vem cá fazer?
Percorro as nossas vidas e é d´ entristecer:
À vista da carência da emoção
O que é que este Natal vem cá fazer?
Perante todo o paradoxo natalício…
À vista do que vier a acontecer,
Fazer Natal não será um desperdício?
Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA