O PRESÉPIO PEQUENINO
Ah, como é bom recordar
Meus Natais de outrora
Quando o sonho era o agora
E a vida canção de ninar.
Um presépio pequenino:
Do céu um pedacinho -
Uma vaquinha, um burrinho,
Pastorinhos de rosto afogueado
A adorar o Menino
Sobre palhinhas deitado.
E o povo simples, feliz,
Cantava canções ternas, singelas
E tão belas,
Lá na velha igreja Matriz:
‘Foi nesta noite venturosa
Que nasceu o Salvador,
E anjos de voz harmoniosa
Deram no céu o clamor:
Glória a Deus nas alturas
E paz na terra’...
Após a missa do galo
A alegre consoada,
Que doce regalo!
Bilharacos, e rabanadas,
Castanhas quentinhas assadas
No borralho da lareira,
E o bom vinho na picheira*.
E fora da porta a geada
De branquinho tudo pintava.
E as estrelas tão lindas a brilhar
Até pareciam piscar
P’ra Jesus menino,
Tão belo e pequenino!...
Eduardo de Almeida Farias
*(regionalismo) bilha de formato elegante
e de boca trilobada. 1999