HÁ NATAL NA BEIRA
Tu, bravio inverno da alma exaltação,
Forte lume com lareira e consoada
Entre pinhas e gravetos sem mais nada,
Tangeste a lembrança da minha emoção.
Eram mais de dez ou doze sobre a mesa,
Pratos rasos de batata e bacalhau,
Com verdura farta, couve-portuguesa;
Dos avós formigos-mel, nosso deleite,
Doces rabanadas até dar co´ um pau
E aletria branca com canela-enfeite.
Meu presépio no lajedo da cozinha
Minha terna Musa, excelsa claridade
Com prendinhas mágicas de ladainha
E materno sonho de matar saudade…
Tocavam lá fora os sinos da igreja
Noite de Natal pra todos um regalo
Revestir os corpos de alegria inveja
E furar o frio da missa-do-galo.
Meu Natal longínquo feito carmesim
Apenas, tão só, aqui dentro de mim!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA