O NATAL PARÓDIA
Se o que era antes fosse agora
O que diria o nosso Bordalo
Da Natalícia tradição?
Fugiriam p´ la porta fora
Antes que houvesse um entalo
De previsível congestão.
A começar por São Bento,
Moram lá comensais fartos
Co´ a carteira recheada…
Não falta bom condimento
Com os mais variados pratos
De comida aprimorada.
Para as bandas de Belém
Sem nenhuma parcimónia
Há boa lagosta e caviar…
- Qual Menino que lá vem?
Não façamos cerimónia
Que o tempo está-se a acabar…
Dizem que não há quartéis,
Debaixo do céu azul
Muita parra, pouca uva,
Abundam chefes e coronéis
No país, de norte a sul,
Com ceias de branca luva.
Pr´ os banqueiros há natal
Com os cofres recheados
Que até dá pr´ animação,
A fartura não faz mal
Com sonhos adocicados
Pedindo repetição.
Digníssimas Instituições,
D´ antes quebrar que torcer
De estatutos sociais,
Servem-se graduações,
Comendas de enternecer,
E aletria de chorar por mais.
Em fábricas e oficinas
Nunca faltam boas-festas
Com patrões de braço dado,
Há pão-de-ló e serpentinas
Com ideias manifestas
De não mexer no ordenado.
Nas igrejas e capelas
Água-benta nunca falta
De mãos-largas ´stá o prior,
Com broinhas ou sem elas
Foguetes pr´ ver a malta
A dar esmolas pr´ o Senhor.
Pr´ às famílias cá da terra
Rabanadas e mexidos,
Coscorões a dar co´ um pau,
Bom apetite está na berra
Há couves “à tempos-idos”
Com batatas e bacalhau.
Rafael Bordalo Pinheiro
Era mesmo um camarada
Com um apurado bom gosto
Servia-se do galinheiro
Buscando na madrugada
Peru morto, galo posto.
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA