Último Natal de Guimarães Rosa
Final de ano em familiaridades,
primos de primeiras desesperidades,
em meio à meia noite,
esperesperávamos...
Dezembro desenganado.
Papai Noel chegou
todo ho-ho-rouco:
- Feliz Natal! - dizia
esquivoso para o nosso lado
com um dlin-dlin-dlin.
Fiquei fixado!
Lembrei do sininho que vivia
na gaveta da cômoda da titia. Luzia!
Corri pegar. Precisava lhe mostrar o igual.
Não estava lá.
Procurei, procurei, procurei...
- 'tava aqui hoje!
- Deixa quieto, filho!
Vai lá receber seu presente!
Eu só pensava no sino.
Verti choro veredito.
Papai Noel nem ligou.
Deixou os deixados e foi embora
sem se importar da pena.
Custava esperar?
Eu esperava o ano todo!
Mais tarde, acharam o desachado.
Mas não tinha festa.
Sequei forte o rosto resignado,
humilhado, esbofeteado.
E Papai Noel nunca mais existiu