PRESÉPIOS VAZIOS
Estão para fora os animais caseiros
Toda a gruta está vazia e não há lume
Só Maria e José, como hospedeiros,
E o Menino deitado no estrume…
Já é tarde e lá fora sopra o vento
- Como é que passaremos esta noite?
A criança não chora de momento
Mas a fome já nos cerca como açoite.
O silêncio da gruta mete medo
E nem a luz da lua fez questão
De dar conforto e ânimo ao degredo
Reinando neste espaço a solidão.
Todos se foram, não está ninguém,
Que a vida toca a todos certamente
E já chegou o anúncio de Belém:
Anda na rua Herodes com sua gente.
Vamos fazer as trouxas e zarpar
Só temos ali fora um jumentinho…
É muito fraco, mas há-de aguentar
Mesmo que seja agreste o seu caminho.
O presépio vazio para aqui fica
Que o tomem os pastores, pois é seu,
Ou os donos da terra, gente rica:
Basta-nos a cotovia e o azul do céu.
- Vamos partir, Maria, ao sol nascer,
Seguindo do bom Anjo o veredicto,
Se tudo correr bem ao anoitecer
Já estaremos às portas do Egipto.
A Cidade tem luz e tem beleza,
Tem movimento e bailes com fartura,
E em nós se aperta toda uma tristeza
De termos de partir para a aventura.
Se havemos de voltar, quem saberá?
Se a brisa da saudade nos chegar
Na esperança de um sorriso pla manhã,
Talvez o sol para nós volte a brilhar…
Há presépios no mundo engalanados
Por luzes de ribalta e de vaidade
São presépios vazios mascarados
De vil hipocrisia e leviandade!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA