PRESÉPIOS VAZIOS

Estão para fora os animais caseiros

Toda a gruta está vazia e não há lume

Só Maria e José, como hospedeiros,

E o Menino deitado no estrume…

Já é tarde e lá fora sopra o vento

- Como é que passaremos esta noite?

A criança não chora de momento

Mas a fome já nos cerca como açoite.

O silêncio da gruta mete medo

E nem a luz da lua fez questão

De dar conforto e ânimo ao degredo

Reinando neste espaço a solidão.

Todos se foram, não está ninguém,

Que a vida toca a todos certamente

E já chegou o anúncio de Belém:

Anda na rua Herodes com sua gente.

Vamos fazer as trouxas e zarpar

Só temos ali fora um jumentinho…

É muito fraco, mas há-de aguentar

Mesmo que seja agreste o seu caminho.

O presépio vazio para aqui fica

Que o tomem os pastores, pois é seu,

Ou os donos da terra, gente rica:

Basta-nos a cotovia e o azul do céu.

- Vamos partir, Maria, ao sol nascer,

Seguindo do bom Anjo o veredicto,

Se tudo correr bem ao anoitecer

Já estaremos às portas do Egipto.

A Cidade tem luz e tem beleza,

Tem movimento e bailes com fartura,

E em nós se aperta toda uma tristeza

De termos de partir para a aventura.

Se havemos de voltar, quem saberá?

Se a brisa da saudade nos chegar

Na esperança de um sorriso pla manhã,

Talvez o sol para nós volte a brilhar…

Há presépios no mundo engalanados

Por luzes de ribalta e de vaidade

São presépios vazios mascarados

De vil hipocrisia e leviandade!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 08/12/2014
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