O DEBATE DA LAPINHA

Muito perto de Belém

Fica a Casa do lamento

A quem a muitos convém

Dar nome de Parlamento.

Parlamento, pela grei,

É tribuna de verdade

Ali nasce toda a lei

Num berço de raridade.

Os eleitos da Nação

Brilhantíssimos alunos

Assumem digna função

Na qualidade de tribunos.

Em todo e qualquer problema

Da vida da cidadania

Debate-se tema a tema

Na melhor democracia.

Nesta quadra de Natal

O que talvez mais convinha

Era fazer tal e qual

Ao debate da Lapinha.

Falam os progenitores

Que deram vida à criança:

- Ai José, dos meus amores,

Onde puseste a Esperança?

José, de olhos reféns,

Apontou para o Menino:

- Ó Maria, aqui a tens,

É este o nosso destino!

Diz Maria, desolada

Sem cobertores nem pão:

- Ó José, não temos nada,

Qual a melhor solução?

E José, imperturbável

Olhando ao longe a ribeira:

- Temos água admirável,

Palha e leite mesmo à beira.

Respondeu logo o boi bento,

Cheio de brio e enfeite:

- Dou a minha para alimento

E tu, vaca, dás o leite…

Disse o pastor do cajado:

- Já dei ao Menino um beijo

E trago no alforge guardado

Um naco de pão com queijo.

- Junta-te a mim, diz o bento,

Bafejemos a manjedoura

Pro Menino o aquecimento

E um sorriso a cada hora.

Não reza a história dos fracos

E os fortes só vêm riqueza

Mas têm a alma em cacos

E um coração de pobreza.

Em toda a santa Lapinha

A luz do amor renasceu

E num hossana, em ladainha,

A Esperança à terra desceu.

Neste Natal benfazejo

Brilhe na terra mais Luz

Num só e único desejo:

José, Maria e Jesus!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 06/12/2014
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