BALADA DO MEU NATAL
"Aos ingénuos deste país"
Cantam branda, brandamente,
Como quem canta por mim
Será Natal será “presente”
Presente não é certamente
E o Natal não canta assim.
É balada de charlatão
Cantando um fado maior
Traz maleta em sua mão
Bem recheada de cifrão
E de amostras de valor.
À porta vem-nos cantar,
Dando ar de competência,
Traz produtos pra mostrar
Telefone a experimentar
E contrato de excelência.
- Nada de encargo nem manha,
Tem qualidade e bom trato,
De início você é que ganha
É barata esta campanha
Para quem fizer contrato.
Puxei-o para meu lado
E dispus-me a entrar na dança
- Ó senhor, aí do mercado,
Não encontra outro recado
Para fazer sua cobrança?
- Eu não sou o Pai Natal,
Ando aqui no meu emprego,
Se isto não der, coisa e tal,
Troco-me já por fiscal
Para seu desassossego.
- Pois, só me faltava esta,
Tenho os meus pra alimentar
Trazem cá o que não presta
Em vez de pão trazem festa,
Ponha-se, mas é, a andar!
- Este mundo anda às avessas
Em vez de um ar natalício
Com rituais e conversas
Vêm com falsas promessas
Pôr a mente em reboliço.
Cantam branda, brandamente,
Como quem canta por mim
Será Natal será “presente”?
Presente não é certamente
E o Natal não canta assim!
É Natal?... ninguém contesta,
Há brilho no meu quintal,
Meu coração ´stá em festa
E não há Festa como esta:
É «Balada do meu Natal!»
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA