NATAL
Natal,
Um raio de luz viajante
Tímido, pequenino, vacilante
Ele penetra as paredes
Mal feitas do barraco
Onde uma família
Dorme pendurada nas redes
E segue por entre os becos
Vielas onde a água escorre
Fétida misturada com
Sacos plásticos, restos de pet.
E pedaços de carne do churrasco
E tampinhas de desinfetante.
Descendo rapidamente
Chega às luzes do calçadão
Lá ele se esconde meio perdido
Como um menino triste
Sem ter seu júbilo encontrado
Ele é uma pálida luz na areia
Da praia muito poluída
É a estrela escondida
Entre as nuvens aborrecidas
Outros bêbados vão chegando
Em algum lugar nas festas
Dos ricos o cheiro de peru
Assado com farofa fast food
Passeiam pelas calçadas
Puftttt alguém abriu
Um espumante
Mãos se levantam num brinde
O raio de luz se ilumina
Sorri, para si mesmo.
Continua viajante anônimo
Espiando entre as moradas
O brilho das luzes, os presentes.
Desembrulhados, amanhã
Serão brinquedos abandonados
Castelos desmoronados
Ilusões perdidas pela fria
Realidade da vida
Dos que passam em branco
Sem notar no pequeno
Raio de luz viajante
Na chama de amor vibrante
No sorriso do menino Jesus
Visitando-nos na sua data especial
A noite de Natal.