Entre operários e versos
Onde estão meus versos?
Quando tudo se vai e fica a mercadoria
Fica um olhar amargurado
E a fome de todos os dias
Fica a mendicância perdida na lembrança
Dentre uma massa supérflua em agonia
Fica a mercadoria circulada
Humanidade desumanizada
Onde estão meus versos?
Dentre uma massa supérflua de mercadorias
Mercadoria impedida de vender
Mercadoria impedida de viver
Onde estão meus versos?
Estão confinados, separados
Sem nomes, sem registros
Meus versos estão perdidos
Onde estão meus versos clandestinos?
Quando piscam as luzes e batem os sinos
O natal de quem precisa vender
O natal de quem precisa viver
Onde estão meus versos ambulantes?
Quando não se tem o que vender
Estão na esperança monetária, prostituta
Se desdobrando para viver
Onde estão meus versos injustiçados?
Quando saltam-se números para contar uma vida
Saltam-se lágrimas nos olhos
De um analfabeto uma escrita
De longe vejo meus versos...
Viva os operários!
Eis a esperança da matéria humana
Pura liberdade, bela sabedoria
De quem não sabe de nada.