OUTROS NATAIS
Ah, como é bom recordar,
Natais dos tempos de outrora,
Quando o sonho era aqui e agora
E a vida uma canção de ninar.
Fazer dum presépio pequenino
Um pedacinho do céu, povoado
De mansinhos animais,
E pastorinhos de faces afogueadas
A adorar o Deus menino
Deitado sobre palhinhas doiradas.
E o povo simples cantava feliz
Canções, ternas, singelas,
Tão belas,
Lá na vetusta igreja Matriz:
‘Foi nesta noite venturosa
Que nasceu o Salvador,
E anjos de voz harmoniosa
Deram no céu este clamor:
Glória a Deus nas alturas
E na terra paz aos homens’.
A família após a missa do galo
Alegre festejava a consoada:
Bilharacos e rabanadas
Castanhas quentinhas, assadas,
E bom vinho na picheira*,
Ao redor do lume na lareira;
Fora da porta a geada tudo pintava,
E ficava tão branquinho,
Uma beleza!
Que mais parecia um imenso lençol
De linho, a natureza,
Onde as estrelas do céu
Desciam para brincar com Jesus menino,
Tão belo e pequenino. .
*(regionalismo) bilha de formato elegante e de boca trilobada.