PRENDAS NATALÍCIAS I
I
A GERAÇÃO DO MENINO JESUS
Custava tanto a passar aqueles dias,
tão longos eram que causavam arrelias.
A sorte sobre nós ditava uma sentença:
sem um bom porte toda a prenda era suspensa.
Ai bom Menino, por quem és, esquece lá
e volta para mim no dia de amanhã.
Não tive culpa da chuvada que apanhei
e, desta forma – vês ? – logo me constipei...
Quanto aos deveres da escola até já consegui
fazer acreditar que eu tudo compreendi.
Portanto, o professor dirá que cumpri bem
ganhando, assim, as prendas melhor que ninguém.
Noite de Natal, toda a gente vem cear
batatas, bacalhau e doces a fartar.
Um lume bem quentinho arde na lareira
e eu a pensar nas prendas pela noite inteira.
À meia-noite, dizem que elas chegarão
enquanto os grandes à missa do galo vão.
Ouvir tocar o sino logo ao fim da festa
sinal seguro que da noite pouco resta...
Não pregar olho toda a noite, como é ?
irei, pois sim, e já, 'spreitar à chaminé.
Ninguém se levantara ainda em toda a casa
e nem luzia na lareira simples brasa...
Óh, tive medo que o Menino não viesse
(e aquelas prendas que pedi não me trouxesse?).
Voltei então p' ra cama para eu sonhar
qu' as prendas estariam lá ao acordar.
E foi verdade que o Menino lá chegou
e as duas prendas nas botinhas me deixou.
Ah, ó Grande Menino, não esqueceste, não,
que eu te havia pedido a bola e o pião !
Frassino Machado
In A CANÇÃO DA TERRA