PRESÉPIO

"Numa daquelas noites em que a poesia pulsa no ar..."

I

Perfuma-se a noite com as notas frugais

Que se mesclam ao aroma da terra vermelha...

Suada...lavrada...por Deus abençoada!

Onde brota a semente da flor de laranjeira.

II

As rodas na estrada levantam poeira

Que ofuscam as estrelas caídas no chão...

Lampião no horizonte é qual uma fogueira

Que aquece as entranhas da minha emoção!

III

A lua obesa está ao meu alcance

Eu toco sua face com a palma da mão...

E na profundeza desta intimidade,

Afugento no céu a minha solidão!

IV

Os grilos anunciam que a noite é morna

E alegres saltitam pelos canaviais...

Girassóis se debruçam na brisa perfumada

E embelezam a paisagem de nuanças florais!

V

Vaga-lumes cintilam na noite estrelada

Feito um "pisca-pisca" de luz natural...

A iluminar um esguio pinheiro,

Que reina sozinho junto ao cafezal.

VI

O gado no pasto repousa ao relento

Ao som da coruja que canta do além!

Cenário de fundo parece inerte,

Qual simples presépio...imóvel também.

VII

Numa nuvem orvalhada desperta o Menino...

E na aurora irradia-se uma luz sem igual!

Ao longe um galo de voz rouca e afinada

"Boa-Nova"anuncia: todo dia é Natal!

Uchôa, 23/06/2003