PAPAI NOEL EXISTE
Já vai longe o tempo em que, contente,
punha os meus tamancos sob a rede
para no outro dia acordar bem cedo,
decepcionado, e sem presentes de Papai Noel,
conformar-me com a minha situação de órfão.
Já vai longe esse tempo.
A mídia não era forte
e o menino criado só pela mãe
fazia seus próprios brinquedos
e, sonhando, com eles brincava
como se recebidos de Papai Noel fossem.
Talvez que fossem mais valiosos...
Um dia, pensei ter feito uma descoberta definitiva:
– Papai Noel não existe.
e falei para todo mundo: - Papai Noel não existe.
Pronto, estava vingado pela falta dos presentes
que minha mãe não me podia comprar.
Passou o tempo e cresci.
Cresci vendo as crianças no Natal,
pela força da tradição transformada em mídia,
receberem presentes caros e baratos
e brincarem com os brinquedos de Papai Noel,
que há muito tempo eu já sabia não existir.
Casei e me vieram os filhos
que, como todas as crianças,
também sonhavam com Papai Noel,
e não apenas sonhavam,
mas escreviam as suas cartas
querendo os brinquedos da moda,
os apresentados nos comerciais da TV,
que maquinalmente os comprava,
quando me era possível,
para satisfazer-lhes as vontades
e realizar aqueles sonhos,
sonhos iguais aos que eu tivera,
antes da grande descoberta.
Mas o tempo passou.
Também os meus filhos cresceram
e, como eu, lamentavelmente, descobriram:
- Papai Noel não existe...
Ainda hoje lhes compro presentes
e os entrego nas noites de Natal,
presentes que são recebidos
sem o brilho especial nos olhos
de quando acreditavam em Papai Noel
e que eu gostaria de rever, como no passado...
O Natal hoje ainda é quase igual.
Há cantos, flores, presépios,
presentes, luzes e hinos,
doces, frutas, queijos, ceia, vinhos
e os sorrisos dos meninos...
Mas há, também, um enorme vazio dentro de mim
por ter tardiamente descoberto:
- Papai Noel existe sim e eu já fui um deles
mas estou morto,
sim, morto como tantos os outros....
Quem sabe ressuscitarei quando vierem os netos?
Quem sabe terei este novo presente de Papai Noel?...
Da série a publicar Cantigas de Outono
Belém – Pa, 23 de dezembro de 1.989
(Dedico a todos os colegas deste Recanto)