CANÇÃO do NATAL
É hora de olharmos os relógios,
os mortos esperam o momento propício
de serem mais do que esperança,
os cachorros magros esperam o momento
em que a estrela do uivo
deposite a força de vontade e a coragem,
as moças que se entregam a ricos adolescentes
exploradores aguardam ao menos uma batida de coração,
os tiranos nada esperam,
mas os heróis que vivem nas crianças aguardam
a ordem exata da conquista final,
e as mulheres tristes esperam maridos menos bêbados,
e os mendigos alheios à festa esperam os ossos
da opulência comilona.
Eu poderia esperar algo mais do que a ironia,
mas o sacerdote asteca balança a estela no alto da torre,
e o capitalista vesgo calcula friamente
que os brinquedos não cabem no sonhos
dos garotos pobres,
enquanto o esportista sonha que a derrota viaje
para outro time,
eu então espero que pelo menos uma vez
enquanto engordar é o único mandamento
do religioso sem fé,
que o anjo da cólera esparrame a embriaguez
dos descrentes pelas calçadas ávidas de atenção,
e da histeria baderneira dos impiedosos uma estrela caiada
de melodias e de cores se levante enfim, por todos nós, Amém