25 DE DEZEMBRO
Nos palcos da hipocrisia
O nascimento
De Cristo foi encenado
As mentiras coloridas dos cartões
Disseram tantas coisas belas
E tantos pensaram que eram verdades
As pessoas sorriram
Abraçaram-se
Beijaram-se
25 de dezembro
E amavam naquele instante
Pois o sacrifício custaria 24 horas
Janeiro viria logo
E tudo seria esquecido
25 de dezembro
Nas igrejas, lembraram-se
Que, no dia em que Cristo nasceu
Ninguém podia passar fome
E cestas de comida
Apareceram para os miseráveis
25 de dezembro
Foi tanto amor
Que, por um momento,
Esqueceram as suas diferenças
E repetiram alegres,
As palavras dos anjos
"Glória a Deus nas alturas
Paz na terra,
Boa vontade para com os homens"
Mas tanto amor
Não alcançou toda cidade
Nos barracos
A noite era mais noite
E lá, continuavam
Perguntando pela vida
Nas calçadas
O pão continuava sendo implorado
As dolorosas incertezas
Cresciam em cada homem deserdado
25 de dezembro
Nos barracos continuava noite
E uma lágrima corria pelos rostos
O sonho
Era a vida para os irmãos
O mesmo sonho que Cristo sonhou
Quando esteve na terra
Prosseguiriam a perseguir a manhã
Que chegaria
Para dizer que nos barracos
Ninguém passaria fome
(Os saciados disseram que era utopia
Mas eles criam, apaixonadamente)
25 de dezembro
Meu Deus
Adianta sonhar?
Adianta sorrir?
Adianta beijar o rosto enrugado da avó?
Quando janeito chegar
Enterrará a esperança de dezembro
A verdade lancinante
Ferirá a fantasia
E fará inexistir o lado fascinante
Que dezembro prometeu
Fome
medo
duro é o futuro
Merda
A eternidade inaceitável e inevitável
descanso
e as respostas que não sabemos
Morte
Violentando o sonho
Ameaçando o tempo da alegria (que virá?)
25 de dezembro
Sabia da sede, mas preferiu esquecê-la
Sabia da fome, mas disse que era inevitável
Sabia que não havia vagas
Nos escritórios e nas fábricas
Mas disse que não podia fazer nada
Sabia dos póbres
Dos marginalizados
Dos alienados
Mas disse que a vida sempre seria assim
E em silêncio
Esperaram outro NATAL
Enquanto esperavam, humilhavam
Enquanto sorriam, entristeciam
E não se lembraram uma única vez de Jesus Cristo
Hoje.
Nos palcos da hipocrisia
O nascimento de Cristo foi encenado
(E os comerciantes
Não sabiam o que fazer com tanto lucro!).