CONTA FINAL DO VIVENTE

Já contei tantos "adeus"

que a Morte e eu somos quase amigos — meu medo? Deixar a Vida viúva,

os dias órfãos dos meus perigos.

Espólio poético:

— 3 pirâmides de versos malditos,

2 caldeirões de ironia fria,

e 1 certidão de nada escrito

pro inventário da hipocrisia.

O ontem pesa mais que o amanhã

(só quando o último suspiro escapa) — "Memento mori", eis a lição:

enquanto uns choram,

outros fazem propaganda da desgraça.

Ah, Vida! Tua conta é cruel:

— Quem muito fecunda ilusão

colhe pó de túmulono final.

E o meu saldo? Versos —

moeda forte pra comprar perdão

no mercado das eternidades...

(Assinado)

O poeta que, ao morrer,

deixou até bilhete pro coveiro:

–“Cava fundo parceiro, que até na cova eu vou meter

mais uma estrofe por debaixo do pano!"

Requiem dos verbos...

DBara Arruda
Enviado por DBara Arruda em 07/04/2025
Código do texto: T8304074
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