CONTA FINAL DO VIVENTE
Já contei tantos "adeus"
que a Morte e eu somos quase amigos — meu medo? Deixar a Vida viúva,
os dias órfãos dos meus perigos.
Espólio poético:
— 3 pirâmides de versos malditos,
2 caldeirões de ironia fria,
e 1 certidão de nada escrito
pro inventário da hipocrisia.
O ontem pesa mais que o amanhã
(só quando o último suspiro escapa) — "Memento mori", eis a lição:
enquanto uns choram,
outros fazem propaganda da desgraça.
Ah, Vida! Tua conta é cruel:
— Quem muito fecunda ilusão
colhe pó de túmulono final.
E o meu saldo? Versos —
moeda forte pra comprar perdão
no mercado das eternidades...
(Assinado)
O poeta que, ao morrer,
deixou até bilhete pro coveiro:
–“Cava fundo parceiro, que até na cova eu vou meter
mais uma estrofe por debaixo do pano!"
Requiem dos verbos...