Fui ao médico.

Fui ao médico e ele falou com o tom de um algoz,

Que a vida é um fio que se rasga em tormentas frias,

Diz-me que sou um espelho quebrado, sem voz,

Reflexo distorcido em noites vazias.

Fui ao médico e ouvi sua língua de ferro,

Onde a dor é um açoite, inclemente, impiedoso.

Minhas costas, terra onde o medo semeia o desterro,

E o corpo, um campo arrasado, cansaço doloroso.

Fui ao médico e ele disse que sou um relógio escasso,

Um tempo que se arrasta, o segundo se esvaindo.

Cada batida uma queda, um abismo no espaço,

A vida, um vulto perdido, ao vento se indo.

Fui ao médico e ele me falou em escuridão:

"Você, um navio sem rumo, em mares sem fim."

O sono, um túnel sem luz, onde a mente se abandona,

E eu, espectro errante, flutuando no abismo assim.

Fui ao médico e ele me disse com olhos sem chama,

Que sou sombra no canto, sem calor ou razão,

A morte, uma dança insidiosa que me reclama,

E o tempo, um corte profundo, uma faca em expansão.

Fui ao médico e ele disse, sem um pingo de dor,

"Você é chama que se apaga, a chama que se esvai."

E eu, um vazio no peito, vazio de amor,

Caminho, uma folha morta, levada pelo ar que desfaz

Erogat C
Enviado por Erogat C em 30/12/2024
Código do texto: T8230246
Classificação de conteúdo: seguro