Fui ao médico.
Fui ao médico e ele falou com o tom de um algoz,
Que a vida é um fio que se rasga em tormentas frias,
Diz-me que sou um espelho quebrado, sem voz,
Reflexo distorcido em noites vazias.
Fui ao médico e ouvi sua língua de ferro,
Onde a dor é um açoite, inclemente, impiedoso.
Minhas costas, terra onde o medo semeia o desterro,
E o corpo, um campo arrasado, cansaço doloroso.
Fui ao médico e ele disse que sou um relógio escasso,
Um tempo que se arrasta, o segundo se esvaindo.
Cada batida uma queda, um abismo no espaço,
A vida, um vulto perdido, ao vento se indo.
Fui ao médico e ele me falou em escuridão:
"Você, um navio sem rumo, em mares sem fim."
O sono, um túnel sem luz, onde a mente se abandona,
E eu, espectro errante, flutuando no abismo assim.
Fui ao médico e ele me disse com olhos sem chama,
Que sou sombra no canto, sem calor ou razão,
A morte, uma dança insidiosa que me reclama,
E o tempo, um corte profundo, uma faca em expansão.
Fui ao médico e ele disse, sem um pingo de dor,
"Você é chama que se apaga, a chama que se esvai."
E eu, um vazio no peito, vazio de amor,
Caminho, uma folha morta, levada pelo ar que desfaz