Chamado do Abismo
Em um dia qualquer,
De uma vida qualquer,
Enquanto me perdia em trabalhos,
Sem procurar nenhum dos atalhos.
Ouvi teu profano chamado,
Uma cacofonia endiabrada,
Minha atenção havia matado,
Você se espreitava.
Porventura passava o tempo,
Você fortalecia o juramento,
Aquele que eu mesmo desatei,
Aquele que eu mesmo quebrei.
E aos poucos ia me atraindo,
Novamente me iludindo,
Trazendo um chamado inaudível,
Com sua vontade indestrutível.
Me seduzia, prometendo e não cumprindo,
Eu fui caindo,
Quando me vi, a ti olhava,
O abismo me chamava.
Eu bebia e não me enchia,
Me embriagar você não permitia,
Até onde eu iria,
Eu me mataria.
Poderia afogar as vozes,
Afogar todas as dores,
Tirar todas essas cores,
Esses pensamentos atrozes.
Ao fim, você quase conseguiu,
Me machucou, me ruiu,
Mas eu não morri,
Mesmo olhando só para ti.
O chamado do abismo,
Cheio de cinismo,
Me faz beber, me faz coçar,
Mas não faz a dor passar.
Você me olhou e eu te olhei,
Morrer eu até tentei,
Eu menti, eu parei,
Mas eu não me perdoei.
Que voz doce, como doce de batata doce,
O mel mais amargo,
Me olhava parado em sua pose,
O veneno do afago.
Entendi que nunca me deixaram,
Nem desataram os nós dos pactos,
Me observam, me espreitavam,
Aos poucos me matavam.
Vocês não vão me deixar ir,
E eu também não irei,
Não vou deixar fluir,
Seu plano, eu ruirei.
O chamado,
Num tom calado,
Te vi e lhe amarro,
Vocês são me fardo.
A palavra de desistência,
Nunca será clemência,
É adiantar o adiantado,
Ser um só com o Diabo.
Lhe ouço, mas não atendo,
Nesse passar lento,
Eu tento e tento,
Mas não me contento.
Não lhe ouvirei,
Nem lhe responderei,
Queriam me matar,
E me fizeram Rei.