No Limiar da Incerteza
A noite é longa e traz consigo sua mortalha,
como um véu que cobre, sem palavra a essência.
Há um silêncio, quase violento, que se espalha,
sussurrando ao coração a vida em vigência.
O ar, tão leve, torna-se denso, quase doente,
no pulsar de um adeus que espreita, frio e certo.
Entre as sombras, a esperança vacila e mente,
enquanto o tempo nos lembra do céu deserto.
Ah, que dor é essa, que o peito embala e aperta,
o medo em forma de um suspiro quase ausente!
A vida escorre pelos dedos, feito ferida aberta,
num fio tênue, tão frágil, de um fim iminente.
E a cada passo, o coração fica mais quieto,
ao ver que, enfim, somos finitos neste chão.
Como é triste saber do destino predileto:
o eterno e lento abraço da morte em sua canção.
PS.: Dedico este poema à minha prima, que agora se encontra em estado grave, suspensa entre a vida e a morte, numa vigília silenciosa e incerta.