A MORTE
Folheando Jorge Luis Borges, e mergulhando em seus versos mortais - já imortalizados - passei a refletir e lembrar de minha última conversa com meu pai Gabriel ao telefone. E voltei a escrever.
“Quando ela vem?” – nos perguntamos intimamente.
Pergunta retórica, vazia de sentido
Pois a Morte realmente nunca se afastou de nós!
É hóspede—incômoda pois jamais convidada,
Que desejaríamos desterrar para longe...
Mas só nos resta agir como se ela entre nós não vivesse
Tentando-nos indiferentes à sua presença.
E ela se cala, na onipresença
De quem é consciente de seu poder!
Silenciosamente, sua respiração nos chega como arrepios
Num pequeno acidente que nos causa dor e ferida
Numa doença que nos fragiliza
-- ou melhor: desvela nossa fragilidade
Na notícia sobre alguém até conhecido
Que se torna ausência
Inevitavelmente permanente!
Viramos a face
Ou abrimos fartamente os olhos
Para a vida à nossa frente...
Mas sua presença continua sendo percebida
E cada vez mais irritantemente próxima!
Pois até nossa capacidade de negligenciá-la
Vai diminuindo gradativamente
Quanto mais nos avança o tempo
Ah, quão inexorável é o Tempo!
Até à juventude, iludimo-nos imortais
E até a provocamos, fazendo tudo o que queremos
Na inútil – e tola – tentativa
de nos revelarmos superiores!