ALMAS QUE BRILHAM
6 de agosto de 2024, Hospital Beneficente São Carlos, Farroupilha, RS.
Estava de pé.
Mandaram sentar.
Disseram-me para ser forte, muito forte.
A mãe não estava presente.
A irmã não estava presente.
Nenhuma tia, nenhum tio.
Mas não me deixaram sozinha.
Havia seres humanos. Havia humanos anjos.
Se seguiram protocolos sociais... Tudo bem! Fizeram o melhor que puderam!
Entrou no ambiente uma enfermeira e um médico.
Cumprimentaram a minha colega, a minha diretora e a mim.
A notícia foi dada como orienta a etiqueta social.
A notícia foi recebida como um golpe.
Meu corpo físico estremeceu.
Todas as culpas do mundo floresceram no jardim do meu viver.
O que mais eu poderia ter feito para prolongar a vida de meu pai...
Não havia nenhuma resposta para as perguntas.
Não havia nenhuma solução para as lágrimas.
Ninguém para ouvir o soluçar da alma tatuada pela morte.
Havia que se conformar com a soberania Divina.
E tinha a esperança que o tempo traria esse conforto.
No entra e sai do hospital, entre dores e papéis, entre abraços e indiferença, por um momento, estive sozinha.
Ser agnóstica não é uma escolha, mas traz à consciência a existência da dúvida, tão necessária para a humilde busca pela sabedoria.
De olhos abertos próximos as mãos, visualizei uma tela preta.
Na metade superior, haviam estrelas brancas brilhantes.
Na metade inferior, haviam estrelas azuis piscantes. Um tom de azul tão lindo nunca visto antes.
Por alguns segundos, retirei as mãos da frente e elas desapareceram. Coloquei as mãos novamente, e elas estavam ali. Aos poucos, desapareceram.
Nunca antes, vivenciei uma experiência tão linda, tão real e de olhos abertos.
Talvez, a tela preta representasse a luta, o meu luto. As estrelas brancas, a minha mãe; as azuis, com certeza, o meu pai que acabara de partir.
Eles devem ter se encontrado no céu; eles devem estar bem.
“As estrelas brilham ainda mais na escuridão!”