AO SENHOR RAIMUNDO MARCOS CORDEIRO
AO SENHOR RAIMUNDO MARCOS CORDEIRO
Dou-vos aqui, Senhor, o lugar que mereceis. Aqui neste livro intimo, onde só tenho estampados nomes sacros que mais hei amado no mundo: ― a quem tenho confiado os mais ardentes e os mais profundos sentimentos de minha alma ― as mais doces e as mais dolorosas […] ― aqui estais vós.
Bem compreendeis o que é um álbum ― são as paginas d’alma escritas ora com sangue, outra hora com lágrimas, nunca animadas por benéfico sorriso. Amor ou desesperança ― saudade ou dor, eis o que ele significa.
Pois bem é nele a par do nome venerando de minha mãe, que estampei o vosso ― é que eu vos consagro uma parcela daquela ternura com que eu a amava ― é que a ausência dum amigo tão caro deixa-me uma parte da saudade que ela me deixou.
Compreendei pois toda a grandeza da minha amizade.
Agora que ides deixar Guimarães e os vossos amigos, recebei a minha despedida nestas frases singelas com o afeto que vos consagro. Estais no começo da vida; largos horizontes se vos antolham, que eu antevejo risonhos e felizes: ― para mim passou já essa quadra da vida, toda de ilusões floridas, e de esperanças mais ou menos enganadoras; mas ainda assim belas!!! Que me resta pois? Um coração vazio de amor, ― uma alma transbordando de afetos ingênuos, puros como os beijos de uma criança, e esses afetos puros assim e sinceros como a minha alma, eu vo-los ofereço, que os mereceis.
Guimarães, 31 de Janeiro de 1869
M. F. dos Reis