A Partitura Da Morte
Da sala que a balbúrdia ouvida
Estremeceu o chão da morada
A melodia melancólica seguida
Ao soar no vazio da madrugada
O órgão tocava em lamento
Uma triste e mórbida sinfonia
Pela mão de um músico em sofrimento
Que em cada tecla do piano percorria
Junto ao ar pesado se espalhava
Ao penetrar nos sonhos de quem dormia
Aquela música em trítono não cessava
E o medo tomava a noite em agonia
Pois o morador da casa tinha o conhecimento
Que na sala ninguém mais estaria
Pois então quem tocava o instrumento?
E no piano, quem compôs a melodia?
A noite caiu e com ela veio o cansaço
Logo que no amanhã já amanhecia
Acordou, notou não haver mais estardalhaço
E nada mais na sala se ouvia
Mas foi então que uma notícia recebeu
E de tremor, desmaiado ao chão caía
Foi um parente, que na noite morreu
Enquanto tocava seu piano com alegria
Talvez tudo aquilo fosse uma coincidência
Ou então uma brincadeira do destino
Mas que destino que testa a paciência
De um modo hostil e repentino
Na noite seguinte novamente
O barulho, na sala se ouvia
Levantou-se o homem rapidamente
E pela escada, prontamente descia
Quando chegou ao piano empoeirado
Lá estava o músico a tocar
Coberto por um capuz negro bem fechado
Queria tanto, este músico desmascarar
Mas notou que a sua mão era tão fria
E dura como um osso a contorcer
Viu de alma, a criatura, tão vazia
Pois no seu rosto, nada se podia ver
E foi então que notou quem era a criatura
No piano e dedilhar sobre o teclado
Era um anjo o compositor da partitura
Talvez o anjo, por todos mais respeitado
Pois cada nota tocada naquele lugar
Era um chamado pra viagem sem passaporte
Pois a partitura que estava a tocar
Foi escrita pela própria mão da morte