Lamento
Ah! lamento
Lamento tanto e quanto ao pranto
Que derramo, santo
Enquanto o manto
Cobre a alma descolorida
Lamento tanto e quanto ao pranto
Que derramo, no entanto
Quando canto o canto
Que ecoa tão brando
Ao mundo que padece
Na prece mal ouvida
Lamento tanto e quanto ao pranto
Que derramo, enquanto
O medo perde o encanto
Quando a morte torna-se maior que a vida
Lamento o meu doloroso e triste agudo
Agonizando no sussurro cada vez mais mudo
De um tolo e debilitado mundo
Que sofre pela mão humana
Lamento o meu bagunçado pensamento
Que aflito, perece no frio deste cimento
Sepultado em lápide de forma insana
Lamento tanto e quanto ao pranto
Sem saber se me garanto
Quando a noite tornar-se o pesadelo mortal
Que maligna revela o quanto
Sofro mas me levanto
Como um cadáver renascido ao funeral
Lamento este fogo ardente
Que penetra vivo na pele sangrenta
Num momento onde o calor aumenta
Quando verte aos poros o líquido brutal
Lamento esta injúria que a mim é sagrada
Como uma história jamais contada
Mas escrita ao livro de anseio fatal
Lamento esta tamanha rejeição
Fadado ao sofrimento eterno
Como ao pulsar do maior vulcão
Quando queima vivo este grande inferno
Lamento a alma amaldiçoada
Que na vida nunca orou por nada
Nem sequer uma mão abriu pra ajudar
Mas que na última hora implora
Pedindo socorro como quem se chora
Chorando pedindo a deus para o salvar
Lamento profundo este desespero
Aflição sedenta que nunca se termina
Lamento pela mão que assina
O contrato do seu próprio enterro
Lamento o espírito contido
Mártir da própria incompetência
Que à morte faz a reverência
Sabendo que nunca teve sequer vivido