Tenho pensado em morte
Tenho pensado em morte
(Como se um dia eu fosse morrer)
Vê, parece piada.
O tempo passa, paira, e eu continuo.
É estranho pensar que vamos morrer,
Porque vivemos como se viveremos
E tratamos as coisas e os outros
Como se fossem ordinários.
E aí PUM a morte, o morrer, a finitude,
Georges Bataille, Hilda Hilst, Nietzsche:
A nossa avô quebra o fêmur,
Vemos um gato morto esparramado no asfalto,
Nossa professora favorita morre,
Ou nós adoecemos
[Clarice Lispector]
E magicamente a morte se torna relevante de novo,
E começamos a pensar nela.
Nas suas formas, nos seus detalhes
E em quem vai chorar quando morrermos.
Escrevo um poema ou outro,
Tomo uma sopa tristemente,
E continuamos a vida.
Vivo como se vivesse
(Talvez a vida seja ignorar o fim).
Me sinto imortal, ignorante da minha condição de finito.
Tenho inveja do infinito e fico triste que coisas sem fim existam.
Quando eu morrer, gostaria que tudo se acabasse comigo.