"Um Sonho Ridículo"
"Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver" - Montaigne.
Vista seus melhores olhos e
Contemplai-me com atenção
Porque hoje é o dia de minha morte
Pois ainda, e tanto, enquanto
E mesmo, às vezes, e sempre
Me faltará algo que me resta e
Nao me completa
De modo que nunca poderei dizer-me
"Que esse sou eu e nao um outro qualquer"
Me verifico ausente mesmo quando estou presente
Estou presente ainda que esteja ausente
De fato que nunca estou onde'stou
E não é concebível que me seja concedido
O benefício da vida
Diante de mim
Pressinto o perigo à espreita
Além de uma garrafa de Absinto
Textos de Edgar Allan Poe
Um pedaço de algo que mata fome
Cujo nome não importa neste momento
Porque essas serão as últimas coisas que verei
E mesmo porque nunca me foram suficientes
Reflito sobre coisas que me eram caras
O sorriso de entes queridos, e amigos
O gol do time do coração
O gosto dos prazeres da bebida
Do fumo e das mulheres
Em outras palavras,
Todo estoicismo inerente a um corpo hedonista
Sentado nesta poltrona desconfortável
Estou a pensar na vida que levei
E a melhor maneira de findá-la
Que seja talvez indolor ao mesmo tempo que
Memorável, sublime e edificante
Aqueles que me gostavam
Rogo-lhes perdão
Aos que me odiavam
Sinto desapontá-los com o meu fim
Em meu epitáfio quero dizeres assim:
"Que foi feliz enquanto viveu
Conquanto mais feliz quando morreu”
Em homenagem e inspirado no livro "Sonho de Um Homem Ridículo", de Dostoiévski.