Sob meu sigilo

Em uma noite incomum,

Onde não entra qualquer um,

Acordei assustado,

Sob meu sigilo guardado.

Na ampla sala do inconsciente,

No fundo da minha mente,

Em volta da pira ardente,

Me encontrei novamente.

A parede com cota de malha,

Sob a lua estrelada,

Ardia frio o Sol enegrecido,

Deixei aqui e havia esquecido.

Meu símbolo, meu sigilo,

Escrito sob ferro e fogo,

Estava limpo,

Nunca esteve oco.

Logo lhe vi na porta,

Aquela entrada morta,

Cheira a mel e fel,

Entrara sem véu.

Príncipe do Egito,

Criador de agito,

Profanador de mil astros,

O quebra mastros.

Pela primeira vez revelaste tua aparência,

Cheia de malevolência,

Pai da violência,

Monstro da ciência.

Olhos dilatados em esmeraldas,

Bicho de sete caudas,

Asas diabolicamente adornadas,

Criados de línguas amaldiçoadas.

Ousa invadir meu lar,

Ousa mentiras falar,

O que procura em Minh’ alma,

Deturbando minha calma.

Fora sou servo, mas aqui sou Rei,

Qual liberdade lhe dei,

Qual trono lhe roubarei,

Vingar-me-ei.

Não sou exigente,

Respeito o inteligente,

Mas fora negligente,

Lhe arrancarei com o dente.

Criatura profana,

Sob meu sigilo lhe condeno,

Mais caro que o feno,

Sua alma será meu câmbio.

Da tua realeza,

Farei tua pobreza,

Da tua mesquinhez,

Haverá escassez.

Agora meu calcanhar,

Ao dobrar,

Sufocará a víbora sob a alma,

Teu veneno não funcionará.

Aqui permanecerei,

Mortalha sob a escuridão,

Por Ele sempre reinarei,

Serão milênios de gratidão.

Teu sofrimento será maior,

Superior aos grãos de areia, ao pó,

Tua garganta entrelaçada,

Pelas mãos e pela espada.

Agirei sob a penumbra,

Lhe trazendo a morte rubra,

Não provarás da uva,

Serás indigno de urna.

Teu erro foi abrir santuário,

Em que fiz meu mausoléu,

Serei teu algoz irritado,

Antes e depois do véu,

E tu réu,

Saberás sobre o corvo cruel.

Mortos devem permanecer mortos,

Sem promessas esvaziadas,

Conte novamente os corpos,

Serei a tua voz rouca.

Te expulso do meu domínio,

Criatura que eu já havia matado,

Que está oração, seja fato.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 13/03/2024
Código do texto: T8019080
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