Desabafo.
E então você se foi.
Antes mesmo que pudesse nascer, ou respirar.
Mas eu senti a vida e sei que você viveu.
Eu fui a única que pude sentir o ser humano único que tu foi, de tamanha grandeza que seria demais pra esse mundo.
Eu te peguei nos braços e vi a tua feição de bravo, assim como eu também estava, mãe e filho, bravos com Deus, eu e tu, ambos, completamente furiosos com Deus ou o universo ou seja o que for que nos rege (se é que existe algo) por termos que nos separar.
Eu pude te pegar nos braços.
Mas não pude cantar uma canção pra ti dormir.
Não pude te amamentar.
Não pude reclamar do seu choro e das madrugada insones que eu teria que passar.
Ninguém mais lembra de você, por que você morreu antes de nascer.
Mas não morreu antes de estar vivo, né?
Por que ja estava vivo dentro de mim.
E como tudo no mundo, a morte só existe pra quem vive. E você viveu. E viverá.
Pra sempre, dentro de mim, em mim, e quando meu corpo se for, a minha alma ainda te fará presente.
Mesmo que eu ainda esteja aqui, nossas almas caminham junto de mãos dadas.
Ou melhor,
Elas voam, né?
Afinal, sou sua mãe. Mãe de anjo.
E com você, aprendi que não existe distância, impedimento, ou seja o que for.
Mesmo que em outro plano, sei que estamos juntos.
Mesmo que não em carne, ainda estamos juntos.
Enquanto eu existir, ambos somos existentes.
E minha alma, pra sempre existirá, assim como a tua, pois não vejo a hora de te encontrar, por completo.