A REVOADA

De uma forma estranha

todos os pássaros ouvem meu nome

nas saciadas entranhas

da revoada de infames abutres,

assim como confessei

cada pecado que me alude

nas entrelinhas das páginas,

me foi revelada na contradição

que eu me tornasse palavra,

busquei nos meus versos a maldição

e ao me ler, pasmado, há constatado

em nenhum lugar de mim

está escrito meu vocábulo,

nenhum substantivo, adjetivo,

vasculhei nos diplomas não obtidos,

nos meus termos não nomeados:

não tomei posse do meu cargo,

não há rastro do meu curso,

não há título para meu trabalho,

jamais cheguei primeiro

e no concurso do meu verdadeiro

[instante

fui reprovado e julgado pelo fracasso,

talvez seja minha única alcunha.

Então abri do peito minha carcaça

e banqueteei, como tenho banqueteado,

cada abutre espectador

com minha triste magra ossada,

quando alçaram voo

eu era página virada.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 16/01/2024
Reeditado em 17/01/2024
Código do texto: T7977854
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