Desenlace.

Pra que a gente possa um dia

Sentar-se na cadeira de balanço

E Num final de tarde

Olhar pela última vez

Pra dentro de si mesmo

E dormitar

Até que a morte venha

E nos acorde delicadamente

Pela primeira vez

Perceber que a vida passou

Não fica quase nada

Pouca coisa além que relações de afeto

Isso apenas nos indica

de que sempre

Alguma coisa vem

Mesmo que não fique quase nada

Fica o pó de giz, que flutuava à luz do Sol

Fica a Lousa apagada no final da aula

A bicicleta quebrada, lá no fundo do quintal

Que igual à vida

Foi ficando pra outro dia

Fica a lembrança

de um nome escrito na calçada

Quando o cimento permitia ainda

O Primeiro dia de trabalho

Aposentadoria

A condução que chacoalhava

A notícia boa que não vinha

Tinha também a ruim

Fica a culpa

Que toda desculpa despejava em mim

Os abraços que nos demos

Os laços de amizade e de amor

Só não fica nenhuma dor

Conforme a cadeira balançou

Ela se foi

Pois não pôde ser dividida

A arte da vida ensina

Que sempre existe alguma coisa

A jamais ser repartida em dois

Termina quando a gente sabe

e aprende

Que há sempre algo

Que ao nosso saber não cabe

E um dia qualquer

Pode ser a qualquer hora do dia

Será sempre o final daquela tarde

Quando o tempo finalmente nos alcança

A cadeira balança uma última vez.

Edson Ricardo Paiva.