"A Despedida".

E hoje o dia amanheceu mais frio.

Mais silencioso.

E por assim dizer, muito mais triste.

Penso sobre como foram nossos últimos momentos juntas e aos poucos todas as angústias vão

se desfazendo em meu peito, que agora abriga um coração um pouco menor.

Sorriso entre lágrimas.

Celebração por cada dia de vida.

Uns melhores que outros.

Entretanto, seguimos na luta.

A luta da senhora que se mesclava com a minha toda vez que percebia minha insignificância

diante de uma doença e seus caminhos tortuosos.

A cada passagem por esse caminho a senhora ia deixando um pouco mais de si.

A vida pulsava.

A vontade de vencer e a fé em sair vitoriosa mantinham as suas forças diariamente.

A mim só cabia estar ali.

Acolher.

Me fazer presente enquanto ainda havia vida.

E hoje, justo neste mês que inconscientemente eu já sabia que seria o derradeiro, a senhora me deixou.

Se foi.

Partiu.

Descansou de suas dores e tormentas.

O corpo físico agora vazio reflete as marcas da caminhada.

Porém, seu espírito és liberto.

Cumpriu seu percurso de filha.

De mãe.

De vó, tia, amiga e irmã.

Agora reverbera luz.

És o saber dessa luz que me conforta agora.

Clamo para quê a senhora seja recebida de braços abertos por espíritos bons que a abracem como nunca.

Que a acolham e ajudem a seguir por novos trilhos.

Não como os trilhos daqui que nos travam os dias.

E sim, o trilhar que traz a regeneração da

alma.

A senhora foi, e será sempre muito amada.

Os meus dias jamais serão os mesmo mas, ei de ficar bem.

Acalentarei meu coração com as lembranças que nem de longe são poucas.

Elas vão servir para me dar a certeza dos valores que trago em mim.

E que sempre serão parte da senhora.

E hoje sinto que o dia está diferente...