É morte

Um término pode ser liberdade para quem não amou

Mas é morte pra quem prossegue amando

Me explica melhor?

Eu não digo figuradamente

É literal

Quando você não entende o porque da outra pessoa desistir

Fica tateando as cegas como um soldado atrás da perna que ficou na mina ou no morteiro

Uma dor física escruciante

Palavra de quem te várias tatuagens

E que já enfiou a cabeça no volante do carro à 140 quilômetros por hora sem cinto

E eu não tô falando de terminar aquele relacionamento moribundo e errado que se quer deveria ter começado

Tô falando de quando parece tá tudo bem e de repente não tá

Da ligação perdida e desconexa dizendo precisamos conversar

Eu tô falando sobre abandono, rejeição, desistência e suas formas mais puras

É morte

Nunca mais vocês vão rir das piadas internas que só vocês conheciam

Nunca mais vocês vão aos lugares que planejaram ir

Nunca mais vocês ver os animais de estimação um do outro

Até a sogra faz falta

Não vão mais transar

Nem chorar juntos

Nem passar nas mesmas esquinas e comentar por dez vezes as mesmas coisas

A lembrança fica

O corpo vai

Que o término é morte

Talvez isso explique o porque eu nunca terminei com ninguém

Eu arrastava o fardo pesado da indiferença por quilômetros e sem apoio algum

Porque eu sei que se eu soltasse quem morreria seria eu

E talvez eu tenha esbravejado e gritado por socorro das maneiras erradas

Talvez eu tenha sido irritadissimo e exigente

Mas é porque apesar de ser pesado

Esse fardo era de vidro

Mas eu nunca matei

Porque terminar pra mim sempre foi a morte

Sabe o que é pior?

Os carniceiros

Coveiros que carregam seu caixão como um troféu

- sua ex tá linda

- nem parece que ela terminou um relacionamento

- vi ela com alguém ontem

Evitar os carniceiros é uma arte

Tudo que eles tem é sal pra jogar na ferida aberta

E se você ainda tiver meio vivo

Vai arder

Arder como o fogo do inferno deve arder

Mas depois de passar por esse processo

Algumas vezes eu sei que passa

Não com o esquecimento

Mas com conformidade

Com aceitação

Eu morri algumas vezes até me ver feliz, pleno e sozinho no meu pós vida

Mas bem

Porque morrer de amor é o único jeito de talvez de driblar a morte

E porque terminar mesmo quando não conseguimos mais aguentar

É eutanásia

É morte

Caio Pimentel
Enviado por Pri Sanchez em 30/09/2023
Código do texto: T7898179
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